Era dezembro de 1996, eu havia chegado a Lima às pressas para cobrir o sequestro de centenas de pessoas no jantar festivo da embaixada japonesa da capital peruana. Sob cerco policial e militar, Néstor Cerpa Cartolini, o chefe guerrilheiro do Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA), comandava o ato isolado e adoidado no casarão do elegante bairro limenho, comunicando-se com o mundo de acordo com os horários do Japão, ou seja, o dia era noite e vice-versa.
A jornada começava às 9h em Tóquio e no Peru estávamos à boca da noite, 21h. No Brasil, em São Paulo, com três horas de dianteira em relação a Lima, as coisas se complicavam ainda mais. Os fatos ocorrendo por lá, às 21h, abertura da jornada diária no Japão, e, no Brasil, já estávamos com meia-noite. Um inferno para acertar o relógio e produzir com calma a tempo de fechamento do jornal paulistano. O fuso horário era bem um confuso horário.
Aquele foi um Natal de produção jornalística a quente, via telefone, e um fim de ano especial. Madrugada virou dia na apuração. Fiz plantão noturno na casa do suíço Michel Minnig, o homem da Cruz Vermelha, única pessoa autorizada por guerrilheiros e exército a entrar no local do sequestro e, às 3h de uma madrugada, terminei por descolar a promessa de uma entrevista exclusiva com ele, marcada para 10h do dia seguinte, como de fato ocorreu. Fui levado a uma sala à beira de uma piscina, que lhe servia de aposento e escritório. Os únicos a entrar na casa fomos eu e um enviado da TV suíça, o país dele.
Mas nem tudo foi aperto naqueles dias. O jantar natalino , por exemplo, ocorreu no La Rosa Náutica, um restaurante que fica sobre um rochedo, dentro do Oceano Pacífico, no bairro Miraflores, onde anos depois voltei para repetir o peixe delicioso. Naquela noite memorável de 1996, depois de enviar ao jornal o material apurado na cobertura do casarão da embaixada japonesa, fiquei sabendo que a "sub de leitura" do meu factual era um texto escrito pelo já famoso Mario Vargas Llosa. Um luxo!
.
Comments